Já não olho mais no relógio. As horas só tem sentido se você espera por algo e eu já não espero mais nada. A espera matou a ansiedade asfixiada pela decepção. Cansei de me decepcionar. Ansiei muito por pequenas vitórias e por grandes conquistas, que no final só encontrei o fim, e lá não existe nada a não ser desesperança.

Joguei todos os relógios fora, na esperança de que os segundos, os minutos e as horas se confundam e não saibam mais quem são, assim como eu.

 

Eu cavei esse buraco tentando encontrar respostas, mas só encontrei escuridão. Aqui embaixo não tem ouro, não tem água, não tem nada, a não ser o vazio que sempre escondi. Quero voltar. Quero sair desse buraco, olhar de cima, ver o que preciso consertar, porque aqui embaixo não dá para fazer nada, a não ser me lamentar. E eu lamento.

Por favor, não me faça querer que você não faça parte da minha vida.

Gostaria que tudo fosse mais ameno, orgânico e não essa guerra branca que vivemos. Os insultos sutis, a desconfiança mútua, a insegurança subjetiva. Você criou inúmeros campos minados e tudo o que tenho feito é pensar onde vou pisar, com medo de mais uma bomba explodir. Quero lutar por uma guerra de paz, não por uma de sangue.

Sinto falta da gente quando eu não tinha consciência do que era ser gente. Sinto falta de reclamar das uvas passas na maionese, de não termos uma árvore de Natal natural e de ficar olhando fotos antigas com você. Para mim, o hoje é muito duro. Nossas maiores conversas são pautadas em discussões sem fundamento. Nossos melhores momentos são após dias sem nos encontrarmos, e estes momentos duram poucos minutos.

Sinto falta de você. Sinto falta do que você poderia significar em minha vida. Sinto falta de poder contar com você. Sinto falta, acima de tudo, de poder encher a boca para falar sobre a diferença que faz em minha vida. Você faz parte dela, mas infelizmente age como se não fizesse diferença. Você faz parte de uma parte que não quero ter.

Muda de lado, faça parte de mim, antes que eu deixe de fazer parte de você.