Abra os portões do inferno
me deixe entrar.
Cansei do paraíso, da redenção,
quero ser normal, preciso errar.

Amor com amor se paga, mas no banco do coração minha conta anda negativa. Tudo anda muito caro e o meu salário amoroso anda abaixo da média de mercado.

A dedicação custa mais do que o bolso aguenta. Uma hora de afagos, carinhos e chamegos equivale a horas de televisão e dias de selfies no Instagram. Está mais barato pensar em si e a moda agora é economizar.

Na fila do amor só pedem beijos ou amassos. O amor, o filé mignon de uma relação, está superestimado, inflacionado, aquém do bolso, longe do poder de compra da classe média da paixão. É mais barato sobreviver com um sexo fácil e banal do que sustentar um amor.

Já olhei a cotação e o amor não para de subir. Está em alta, é só para quem pode. Não há Bovespa que aguente, não há Down Jones que suporte, está tão difícil ter amor estável que essa moeda não para de se valorizar. Só adquire quem tem, só ama quando dá.

Não tenho poupança, não tenho limite, não tenho cheque especial para amar, mas quero. Preciso batalhar para chegar no mesmo patamar dessas paixões absurdamente valiosas. Se com amor é mais caro, estou disposto a pagar.

Me perdoe, já que aí dentro algo não consegue me perdoar. Perdão por quê? Por querer viver fora dos padrões, por quebrar a rotina e por não ser tão certinho. Por nada disso combinar com você. Por nada ter a ver com o que você pensa ou sente.

As vezes quero me ver livre de você, mas não é sobre o seu eu, é sobre sua mente. É sobre como você se porta diante de algo inusitado, como dormir fora em uma segunda ou inventar uma doença só para ficarmos juntos em uma quarta. É errado, mas quem disse que é preciso estar sempre certo para ser feliz. E a felicidade não vem só do que o destino dá, das conquistas. Ela vem de algum lugar dentro da gente que sabe equilibrar o certo e o errado. O seu certo anda errado demais.

Não quero te induzir ao caminho da perdição. Não desejo o mal, nem que você faça escolhas ruins. Eu só espero que você ouça menos a voz que condiciona e mais a que te liberta. Libertação é equilíbrio e a sua balança tem apenas um lado.

Me perdoe, ainda que não precise pedir perdão. Sei que só assim você irá me perdoar. A sua coerência é refém da moral, mas a sua moralidade não possui parâmetros. Você precisa ouvir perdão para satisfazer a sua mente, não o seu coração.