Não cabe
na palma
da mão
de quem aplaude
da planta
o que não cabe
no coração
o da mente
o que mente
o que apoia
o que sente
e não cabe
dentro da
gente
tanto amor
tão descabível
e inacabado
que não tem cabimento.

Não aguento mais ouvir falar sobre a saudade. Saudade do quê? De mim ou de mim quanto a você? Se a falta é de falar comigo e não de saber de mim, não é saudade, é carência.

Temos saudade de pessoas, de momentos. A saudade é uma lembrança que gostaríamos de viver eternamente. Quando lembramos de alguém que nos faz bem, de algo que nos enche o peito e a mente, sentimos saudades. Ela é integralmente recíproca. A saudade é um lugar que gostaríamos de estar para sempre.

Mas quando alguém diz que sente falta de você, mas o inverso não ocorre, é porque você aguça as memórias da pessoa. Se sentem que precisam conversar contigo, estar ao seu lado e ouvir uma palavra amiga, pode ser que a pessoa só se sinta sozinha e sabe que vai encontrar ao seu lado o apoio que precisa. Saudade não é assistência, é troca. Para sentir saudades de alguém é preciso sentir que a outra pessoa também te conforte, te preencha, te abasteça. Se apenas um dos lados dá suporte, não há saudade, há empatia.

O mundo está cheio de pessoas que precisam de você ou de mim, mas para matar as saudades de fato, ela precisa existir. Se você sente falta do que eu represento na sua vida e não sabe quase nada sobre mim, é apenas mais uma relação onde não existem trocas, apenas entregas. Eu quero alguém que sinta saudades de mim pelo o que sou para mim, não do que sou para o mundo. Sinta saudades do que eu sinto sobre a minha vida, não sobre a sua. Sinta saudades do que eu sinto.

Somos positivamente conflitantes e sempre seremos. Eu não vivo sem você e você não você sem mim, independente de qualquer sentimento. Estamos em sociedade, logo até a individualidade é coletiva. Sendo assim, amar é coletivo: dependemos do amor dos outros para existir. É aí que entra o problema, o meu e o seu. Uma relação é feita de doações, do que parte de mim para você e do que parte de você para mim. Quando nos colocamos no meio das relações cotidianas, como deixar de fazer algo que gostaríamos para fazer algo que o outro gostaria, vivemos a coletividade do amor. Mas quando o seu eu entende que a doação tange a um universo de coisas que só você gosta e eu não, ou quando antes de pensar em você eu penso em mim, não há coletividade, há egoísmo. Amar não é egocentrismo, amar é ceder. E alguém tem que ceder para um dos “eus”, senão a coletividade jamais existirá, o individual tentará seguir sem sucesso e vamos quebrar a regra social do amor. Não que para amar existam regras, mas para não deixar de amar o meu ou o seu eu, existem. Quando um de nós anula o próprio eu, não existe mais coletivo, já apenas um irá se sobressair e uma relação de um só deixa de ser coletiva, torna-se individual e automaticamente egoísta. Se você acredita no amor, passe a pensar mais em mim do que em você e viva nós dois. Se você acredita em você, em mim e no amor ao mesmo tempo, esqueça um dos três.