Estamos prontos para o fim. Não nos preparamos, mas sinto que marcamos a hora do enterro, para não perdermos a oportunidade de um olhar para o outro dentro do caixão.

Nos cruzamos pelo caminho e paramos em uma encruzilhada. Decidimos seguir juntos para um dos caminhos, sendo que cada um gostaria de ir para um lado. Estamos caminhando de mãos dadas, mas sofrendo com a pressão dos dedos. Você me segura e eu quero partir. Eu corro e você prefere andar. Você me puxa e eu só quero ficar parado um pouco. Eu te sinto longe e você me enxerga perto.

Estamos presos em um amor condicionado. A gente se ama na rotina e se odeia no inesperado. Preferimos o arroz com feijão ao invés de não ter prato preferido. Estamos em um ninho, mas com asas prontas para serem gastas. Nós somos paixão se esforçando para ser amor.

Entretanto, foi tanto de nós para os dois que nos sobrou pouco para nós mesmos. Já não temos mais a essência própria e o pouco que sobrou não nos basta. O amor se tornou líquido e a escassez está nos deixando com sede. Estamos morrendo, ao poucos, sem poder regar o melhor da gente.

Chegamos no dito final. Não temos mais nada, a não ser um ao outro. Enquanto existir vida, haverá morte. E se a vida a dois mata a própria vida, a melhor escolha é morrer. Não de amor, nem por amor. Melhor morrer por causa do amor.

As críticas entraram
e dominaram o lugar.
Nunca foram bem aceitas,
a hipocrisia dominou o lar.

A casa agora é feita de mentiras
e de inverdades para quem gosta de escutar.
Fechei as portas,
saí do quarto,
aluguei as verdades, revoguei os hipócritas, aprendi esnobar.

Entre seus lençóis
e o seu pijama,
descobri que não estamos a sós
e que já não me ama.

Tanto suor já passou por este colchão,
que já não faz mais diferença a roupa de cama.
Sei que seu quarto ainda me ama,
mas meu amor vai encontrar outra alocação.