Entre as inúmeras coisas que quero dizer, não digo. Até porque são coisas, e coisas são apenas coisas, sem definição.

O amor é tipo uma coisa, que não definimos, mas usamos para explicar algumas outras coisas que estamos sentindo. A gente sente amor na maior parte do tempo, mas não sabe o que é, logo o amor é uma coisa.

Por isso, deixei de falar de amor por aí. Achei melhor. Acho, não tenho certeza. Evito falar de coisas, que aquela coisa ali é bela, ou que eu adorei determinada coisa. Não gosto de coisas. Elas não tem forma, ninguém sabe muito bem o que é, nem para que servem.

Quando alguém quer algo e não sabe o nome, diz: “ah, pega aquela coisa ali em cima pra mim?”. Não quero ter que pegar o amor ali em cima, até porque não estou vendo onde ele está. Quando eu preciso comprar algo e não sei o nome, tento explicar. Fico tentando definir a coisa, dando detalhes, mas ninguém entende muito bem o que é, e tenta me dar algo semelhante. Não sei se há algo parecido com o amor, mas se ele é uma coisa, é só uma coisa.

Já pedi para pessoas desconhecidas pegarem coisas pra mim. Gente que nunca vi. Não quero gente pegando o amor, ou essa coisa. Se meteu a mão na coisa, eu não sei que tipo de coisa pode ser, e talvez estejam metendo a mão no amor.

E é tanta coisa dentro da cabeça, tanta coisa dentro da gente, que não sei definir quantas coisas eu sinto ao mesmo tempo. Por isso não digo nada, porque são apenas coisas, ou apenas amor.

Quero as coisas muito bem determinadas, pra eu ter certeza do tipo de coisa que quero, e voltar a falar das coisas que sinto por aí.

Deixei de lado todas as manias irritantes que você provavelmente reclamaria, como almoçar vendo TV, esquecer a porta aberta, deixar a luz acesa, esquecer a chave na porta, não dar descarga, me atrasar, dizer que “já estou chegando” quando não estou, dormir cedo, ir de chinelo ao shopping, demorar no banho e deitar de cabelo molhado, mas deixei o melhor do pior pra você, pra me moldar de um jeito só nosso.

Parei com a rotina e aprendi a surpreender, a dar presentes sem motivo, a fazer surpresas a noite, a preparar o seu prato favorito sem que você peça, a deixar o seu travesseiro favorito na cama, a deixar você escolher o restaurante, a dizer qual é a sua melhor roupa, a elogiar o seu cabelo e a fazer cada dia da gente de um jeito único, para que você me descubra pra sempre.

Larguei num canto todos os xavecos, as cartas na manga, os contatos de sexo fácil, os rolinhos inacabados, quem ficou na geladeira, as mensagens não respondidas de Whatsapp, as cutucadas no Facebook e os flertes na rua, mas deixei o melhor do estilo canalha pra você, pra nós dois, pra nossa cama.

Voltei com a sinceridade e cansei das omissões, como quando falo quem é amigo de verdade, quando digo que poderia ser assim ao invés de assado, quando sentamos, conversamos sobre o relacionamento e digo o que está e o que não está bom, quando deixo de fingir que está tudo bem, quando conto algo que vai te magoar agora e vai ter fazer bem depois, quando deixo de te poupar com desculpas para te proporcionar uma falsa felicidade, sendo que posso te deixar triste por um momento e te oferecer a alegria da honestidade em todos os outros.

Troquei de lado, abandonei hábitos e me encontrei. Reservei o melhor de mim pra você, porque você é o meu melhor.

Somos redundantes. Ao mesmo tempo que desejamos estar juntos, em uma única vida, desejamos ter uma vida única longe dessa junção.

É como se a felicidade que nos encontra quando estamos unidos não se bastasse e as vezes precisasse nos encontrar a sós. Se somos perfeitos juntos, separados somos transcendentais.

A união que nos apoia é a mesma que nos assola.

Quero a alegria, ao teu lado, mas antes preciso descobrir a alegria de ser um só, sem você.

Sinto, mas só por hoje não quero te ter.