Enquanto viveu, foi por um objetivo: consumir o amor. Leu todos os livros que falavam sobre. Conhecia todas as magias, vinganças, complôs que envolviam o amor.

Viveu vários tipos de relacionamento. Certa vez foi uma mulher que matava todos que impediam que o amor acontecesse, e no fim casou-se e viveu feliz. Outra, foi uma bruxa que se apaixonou por um mortal e teve que lutar contra toda a sua raça para que o amor vencesse. Também viveu uma mulher submissa, que através da obediência fez com que o amado descobrisse o melhor sentimento do mundo. Foi também vampira, prostituta, esquizofrênica, milionária, deficiente e transexual, e todas elas conseguiram vencer os desafios e viver um amor de verdade.

Consumiu tanto o amor, que o amor a consumiu. Foram tantos tipos e tantos formatos, que o amor próprio se perdeu entre elas. Tentou transformar cada homem que passava em sua vida numa bela história, onde as dificuldades levariam a seu maior objetivo. Mas ninguém jamais suportou a sua forma de ver esse sentimento. Antes do amor chegar, eles partiam. Comprou todas as fórmulas do amor, mas nenhuma funcionou.

Viveu pelo amor, mas jamais deixou que o amor vivesse por ela.

Quando sentimos algo, o sentimento tende a ser estereotipado por terceiros com segundas intenções, desvirtuando o que está queimando o centro do corpo por alguma baboseira que incomoda entre o córtex e o cerebelo. Sei que muitos passam por isso, sem duvidar de si e das próprias sensações, vivendo de um estereótipo sentimental. Por mais que as emoções conduzam os sentimentos, quem conduz as emoções são as pessoas. Estas dissimulam, transformam e convencem a seguir um padrão emocional, muitas vezes manipuladas por outras que também foram enganadas. E no limite dos sentimentos entre pessoas e emoções encontra-se o amor.

Embora presente, vivo, pulsante, o amor vivido atualmente é uma farsa. Ele foi desestruturado pelas emoções de quem já não acreditava mais neste sentimento. A saudade, combustível de quem ama, passou a ser confundida com carência. A fidelidade mudou de nome para monogamia, passou a ser julgada e hoje acredita-se que ela nem exista mais. O companheirismo perdeu espaço para o altruísmo e para amar não é preciso ter alguém para sempre, cinco minutos bastam. O desejo foi obrigado a se fundir com o tesão e hoje qualquer ejaculação é confundida com amor eterno. Não se sabe mais como se ama e se um dia alguém realmente amou. Duvida-se de tudo. A insegurança dita as regras de um relacionamento e quem ama, ama as sobras da falta de zelo.

E em meio ao labirinto de emoções deturpadas, tente encontrar a saída. Esqueça os homens e suas novas regras para amar. Esqueça dos seus modos e o modo como amou. Esqueça como se ama para aprender a amar novamente. Esqueça de todos os conceitos e lembre-se de si. Para sentir o amor, é preciso se amar.

Ó, não sei bem por onde começar, mas acho que a gente devia viver junto. É, junto, do tipo pra sempre, sabe? Por que isso agora? Ah, acho que a gente junto dá mais certo do que separado. Junto não tem essa de horário pra chegar. A hora que chego é quando abro os olhos pela manhã e já tô do seu lado, e a maior distância entre a gente não é um ônibus e um metrô, é um abraço. Se a gente vivesse uma só vida, você não me ligaria pra perguntar se vou almoçar com você ou não, pois provavelmente já estaríamos indo juntos ao mercado comprar macarrão e queijo gorgonzola pra fazer o meu prato de praxe. Se a gente já estivesse pra sempre num mesmo lugar, não ia ter essa de ficar pensando em programação pra ocupar o tempo. Se quiséssemos ver um filme no computador deitados na cama, ir ao cinema, dar uma volta na Augusta ou tirar um daqueles cochilos no meio da tarde (que eu odeio), bastaria fazer. Se eu e você fossemos a gente, a expectativa do fim de semana se transformaria na do fim do dia, enquanto um espera o outro chegar do trabalho para ter um daqueles momentos que só precisam acabar com o amanhã. Se a nossa rotina fosse somente uma, não ia ter problema de você ficar na sala jogando videogame enquanto escrevo esse texto, porque teríamos tantos momentos a dois que ser um só por um momento valeria o esforço. Eu queria que a gente vivesse junto para encurtar a saudade, aumentar os momentos, reduzir a separação, prolongar o amor e não para sermos um só, porque já somos.