Era pra gente ser feliz.

Era pra gente estar agora na mesma cama, deitados, assistindo a uma série que um gosta mais do que o outro, só pela companhia.

Era pra gente estar agora empurrando um carrinho de supermercado, fazendo as compras do mês, discutindo porque um quer levar duas caixas de Bis e o outro argumentando que ainda tem algumas na despensa.

Era pra gente estar agora no site do Cinemark escolhendo qual filme vamos ver no shopping, na dúvida entre um besteirol e um suspense, escolhendo a melhor poltrona, sendo que um prefere bem no fundo e o outro prefere mais perto da tela.

Era pra gente estar agora rindo um do outro, porque um falou uma palavra errada, porque o outro está com o cabelo bagunçado, porque vemos graça onde não existe.

Era pra gente estar agora no mesmo lugar, decidindo o futuro juntos, vivendo o mesmo tempo e dividindo o mesmo espaço, mas estamos separados, cada um no seu canto, cada um por si, cada um sendo um só.

Era pra gente ser feliz, juntos.

Não quero mais amor. Estou farto desse amor que só me entrega palavras e não atos.

Não quero mais esse amor que me afoga com palavras bonitas, mas quando necessário não há uma que seja relevante para me deixar melhor. O dicionário está lotado de palavras encantadoras e nem por isso temos um relacionamento. Quero as palavras certas na hora certa. O significado de cada uma delas tem poder e jogá-las aleatoriamente da boca para os meus ouvidos faz com que percam a semântica, se tornando apenas a soma de vogais e consoantes.

Não preciso de mais amor, preciso de mais ação. Preciso que faça por mim o que alguém jamais fez. Que pense com a minha cabeça, com a minha alma e o meu coração. Que os seus atos sejam repensados para não ferir os meus. Que a sua liberdade tome cuidado para não atrapalhar a minha e criarmos a nossa libertinagem. No universo do amor, os atos são o coração. Não quero flores ou presentes, quero respeito. Não quero carinhos e afagos, quero momentos. Proporcione os melhores segundos da minha vida, faça o melhor por nós na hora exata e não precisarei de mais nada.

Encontre a sinergia das palavras com as ações e teremos amor. Não mais amor, pois estamos saturados do amor comum, corriqueiro e banal. Teremos amor puro, raro e empático, o amor de quem sabe amar.

 

Sabe essa coisa da gente junto?

Da gente deitado na cama, na transversal, um segurando a cabeça com um braço enquanto apoia o corpo todo no cotovelo, e o outro quase encostando o tênis no lençol limpinho, saca?

Da gente reclamando do povo que está com a síndrome do pequeno poder atacada no trabalho, fazendo planos para o final de semana e tendo conversas intrínsecas a respeito do nosso comportamento social, lembra?

Da gente discutindo pelos defeitos do outro, não assumindo os próprios, fugindo dos problemas, ficando sem se falar, não dando o braço a torcer, mas no fim tudo acaba voltando ao normal, já pensou?

Da gente andando na rua, enquanto um vai caminhando mais rápido e o outro tentando acompanhar o passo, mas sempre buscando ficar lado a lado, já reparou?

Da gente planejando um futuro diferente a cada mês, fazendo planos de ter animais, escolher entre casa ou apartamento, cogitar sobre cada um ter o seu canto ou de largar tudo e começar do zero em outro país, tá me entendendo?

Sabe, essa coisa? Não sei, parece amor.